Não sabemos quem fez a tradução, nem quem disponibilizou o artigo na internet, mas agradecemos desde já o esforço!
A associação Pikler Lóczy da França propõe uma reflexão sobre a criança que se apoia sobre os trabalhos de Emmi Pikler, pediatra, e sobre a experiência de Lóczy, berçário que fundou em 1946, em Budapeste, na Hungria, nos propõe textos fundamentais e contemporâneos, para aprofundar a visão atual sobre o bebê e as crianças jovens , e promover as idéias piklerianas. Foi Judit Falk, pediatra e ex-diretora do Instituto Pikler que inaugurou a Spirale.
Quando nós tocamos o corpo do bebê...
Associação
Pikler Lóczy da França por uma reflexão
Às
vezes educadores, psicólogos, pedagogos parecem se esquecer que a criança tem
um corpo e não ‘pensa’ senão com suas emoções, suas relações interpessoais,
suas capacidades e aquisições motoras e cognitivas (relativas ao que ela sabe
ou ao que ainda não sabe).
Quanto
aos pediatras interessados nas etapas do desenvolvimento da criança, eles
estudaram essencialmente o desenvolvimento somático e negligenciaram o
psiquismo. Hoje, numerosos pediatras procuram considerar, ter em conta, corpo e
psiquismo quando tratam, por exemplo, certos problemas alimentares, a asma,
etc... refletindo notadamente em termos de doenças psicossomáticas.
Além disso, mais e mais
psicólogos, pedagogos e educadores consideram que o bem-estar físico, que
depende de inúmeros pequenos detalhes, é uma condição fundamental ao exercício
de funções propriamente psíquicas.
Entretanto, ainda prevalece um enfoque
das necessidades do bebê como puramente psicológicas e dos cuidados corporais
como puramente sanitários. Porém, nesta idade, o fisiológico e o psicológico
não estão ainda distintos ou somente começam a sê-lo. De fato, essas necessidades e a sua satisfação situam-se
dentro de um campo psicológico complexo. O potencial inato da criança comporta
uma tendência ao crescimento e ao desenvolvimento, mas o crescimento não poderá
existir senão sob certas condições, sobretudo de cuidados de boa qualidade,
durante todo o desenvolvimento.
Por cuidados de boa qualidade se entende
não somente os cuidados corporais executados pelo adulto, mas também a atenção
que este dá às condições do meio (do ambiente), à necessidade de segurança
afetiva e de atividades do bebê e às modificações do meio ambiente (do
entorno), que devem também evoluir, modificar-se, em função do desenvolvimento
do bebê. Esses cuidados de boa qualidade favorecem a tendência inata da criança
a conhecer e habitar seu corpo, a ter prazer, a obter conhecimentos a partir de
suas funções corporais e a aceitar os limites impostos por sua pele, segundo os
termos de Winnicott, “esta membrana que separa o ‘eu’ do ‘não eu’”.
A noção do
corpo próprio se constitui progressivamente desde o início da vida, dentro de
um processo de desenvolvimento complexo. Segundo Wallon, ela precede os outros
processos da psicogênese, pois não há o que esteja, como ela, mais
imediatamente na confluência das necessidades interoceptivas e das relações com
o mundo exterior, nem mais indispensáveis aos progressos futuros da
consciência.
A criança
pequena, desde o nascimento, consegue conhecer seu corpo essencialmente de duas
maneiras: através de tudo o que se passa com seu corpo, quer dizer, pela
atividade de seu próprio corpo, e por tudo que é feito com seu corpo e para seu
corpo quando é pego, carregado, alimentado e lhe são dados outros cuidados
corporais.
A visão e
as experiências dos corpos dos outros, além de outros fatores, interferem
igualmente nessa descoberta, mas
as experiências adquiridas graças ao próprio corpo nos parecem primordiais.
9 Esses dois
aspectos, aquilo que ele faz e aquilo que é feito com (e a) seu corpo são
interdependentes, dificilmente dissociáveis. Mas este artigo só se ocupará do
segundo aspecto, quer dizer, daquilo que acontece ao corpo de uma criança
pequena, visto que consideramos ter importância primordial os cuidados
corporais e em tudo o que se passa entre a criança e o adulto, durante os
cuidados.
10 Todos
aqueles que conhecem um pouco o trabalho de nosso instituto já sabem que nós
consideramos os momentos dos cuidados corporais como os mais importantes e os
mais íntimos da interação adulto-criança.
11 Nós
pensamos que o bebê, na medida em que ele teve um momento de intensa segurança
durante os cuidados, pode em seguida aproveitar as possibilidades de atividade
nas quais o adulto não intervém diretamente, e se voltar com interesse e
alegria para o mundo exterior.
QUALIDADE E EFEITOS DOS
<<BONS CUIDADOS>>
O bebê irá
se conhecer e conhecer o adulto durante esses cuidados, até a satisfação de suas
necessidades corporais. No início, o bebê sente estas necessidades apenas como uma
forma desagradável de tensões indefinidas e de sofrimento. Ele ainda não “sabe”
que tem fome, que tem sede, que tem calor ou frio, ou que alguma coisa lhe faz
mal. Em seguida da satisfação de suas necessidades, ou mais exatamente em seguida
à maneira com que o adulto põe fim às suas tensões, o bebê aprende a sinalizar,
e depois a reconhecer estas necessidades, e, finalmente, a exprimir ele mesmo,
de maneira cada vez mais cheia de nuances, suas necessidades, suas próprias
exigências, por relacioná-las com sua satisfação, e depois da satisfação, com o
sentimento de contentamento.
13 Para fazer
uma descrição simples desse processo de aprendizagem, pode-se dizer que a
criança aprende a exprimir suas necessidades por que ela teve experiências
repetidas em que o adulto a livrou
de suas sensações desagradáveis, pois reconheceu os sinais emitidos pela
criança e respondeu adequadamente.
14 Essas
experiências levam a criança a associar a cessação de suas tensões, da fome, da
sede, do frio, etc.., aos sinais emitidos por ela mesma e ao adulto que
responde às suas necessidades. Seu sentimento de segurança psíquica está ligado
ao adulto e, também como conseqüência, seu sentimento de segurança afetiva.
15 É pela
expressão de suas necessidades, e pela resposta que recebe, que o bebê aprende
a perceber qual é a necessidade, quer dizer, que ele tem fome, que tem sede,
etc.., e que ele aprende também
que é ele mesmo, sua própria pessoa, quem
tem fome, quem tem sede. Ao mesmo tempo, ele compreende que, embora seja
o adulto quem põe fim às suas tensões, ele pode contribuir se der os sinais
adequados.
Se,
durante os cuidados, o adulto der sem cessar uma atenção particular aos sinais
do bebê, e se os levar em consideração para lhe oferecer as refeições, para
andar, banhar, vestir ou desvestir, ele cria, desde o início, a possibilidade
de que o bebê, por sua vez, “intervenha” no processo dos cuidados e na maneira pelas
quais esses cuidados serão satisfeitos, notadamente em relação à duração e ao
ritmo da refeição, à quantidade e à temperatura da comida, ao ritmo dos
movimentos durante o vestir, o despir, à quantidade e à temperatura da água do
banho, etc.
17 Se a
criança tiver confiança na possibilidade de influenciar naquilo que ocorre com
ela, se puder sentir-se sujeito participante e não objeto manipulado, isso irá
reforçar seu sentimento de eficiência e de competência.
Um compartilhamento
nas atividades dos dois parceiros, um verdadeiro diálogo ocorrerá durante os
cuidados do bebê desde a mais tenra idade, através da via cutânea e
cinestésica, se ele não for jamais tratado como um objeto, precioso ou não, mas
sim como um ser humano que sente, observa, registra e compreende (ou que
compreenderá, se lhe for dada a oportunidade), se as palavras e os gestos não
forem simplesmente “gentis”, mas se eles testemunharem a consciência permanente
que a criança é sensível a tudo o que lhe acontece e não pode ser manipulada em
função do que é cômodo para o adulto.
Graças a
esse diálogo, o bebê constrói cada vez mais maneiras de emitir sinais capazes de influenciar os
acontecimentos que lhe concernem. Por sua vez, o adulto descobre, sempre, cada
vez mais meios, seja para comunicar sua intenção de uma maneira compreensível à
criança, seja para adaptar sua atividade às necessidades expressas pela
criança, seja para obter que a criança participe voluntariamente daquilo que
lhe é proposto.
20 O desenvolvimento
da função de comunicação, assegurado pela atividade comum compartilhada no
decorrer dos cuidados, é facilitado pelo fato dos cuidados representarem uma
série de ações que se repetem cotidianamente. Eles ocorrem com uma repetição de
gestos similares, dentro de uma sucessão idêntica, acompanhados por palavras adequadas,
quase que iguais, que sinalizam à criança a continuação previsível dos gestos
do adulto e lhe permitem antecipar o gesto e o acontecimento posteriores. Isso a
ajuda a não aceitar os cuidados de maneira passiva e, ao contrário, a prepara a
ser parte ativa dos acontecimentos.
No
decorrer dos cuidados corporais de boa qualidade, a compreensão está sempre
presente, além da alegria mútua e de um diálogo corporal que corresponde à
necessidade de segurança física da criança. A qualidade dos gestos do adulto
tem um profundo impacto sobre o tônus, e pode-se dizer, sobre a “confiança
corporal” da criança. A maneira com que o adulto lhe oferece seus gestos e
acolhe os dela, lhe sugere que é ouvida e que sua pessoa é apreciada.
Segundo
Winnicott, uma das angústias mais primitivas, e muito destrutiva, é a
insegurança provocada por uma certa maneira de pegar ou de carregar o bebê. O
termo ‘holding’, utilizado por Winnicott, engloba a maneira de carregar fisicamente,
mas também tudo o que o entorno (o ambiente externo) lhe fornece ou forneceu
anteriormente. Essa noção faz referência a uma relação espacial em três
dimensões à qual o tempo se junta progressivamente.
Segurar
bem uma criança é protegê-la dos perigos físicos, ter em conta a sensibilidade
de sua pele, de sua audição, de sua visão, e de sua sensação de queda pela ação
da gravidade. “Segurar” compreende todas as etapas sucessivas de cuidados que
se adaptam dia após dia às mudanças da criança decorrentes de seu crescimento.
Quando o bebê é levantado, carregado nos braços, colocado sobre os joelhos do
adulto, colocado dentro da banheira, posto sobre o trocador ou em seu berço,
etc.., deve ser absolutamente preservado da sensação de queda ou de quebra,
desagregação e perda de equilíbrio.
IMPOTÂNCIA DA TECNICA DE
CUIDADOS
Uma boa
técnica de cuidados procura propiciar à criança o sentimento de segurança de
ser pega e carregada por mãos firmes e ternas que lhe permita estar em um
estado de relaxamento. Isso não significa um estado de hipotonia mas um estado
de “relaxamento-tônico”, segundo Agnès Szanto. Para que fique relaxado e
tonificado, o bebê deve ser levantado, segurado, carregado ou colocado sempre
em uma posição que lhe seja familiar e na qual ele não precise se manter verticalmente.
25De fato,
para preservar o bebê da posição vertical, que atrapalha o seu equilíbrio, é
necessário levantá-lo, carregá-lo, colocá-lo, virá-lo sempre em posição
alongada, de modo que ele não passe, por si só, para a posição vertical. E
mais, ele não deve ser pego ou
carregado em uma postura mais desenvolvida do que já adquiriu, se ela não lhe
dá ainda uma sensação de completa segurança. Quando ele é pego ou carregado, é
necessário sustentá-lo de tal maneira que a maior superfície possível de seu
corpo tenha um apoio firme. Quando o recém nascido é levantado ou carregado nos
braços, toda a sua coluna vertebral tem necessidade de um apoio sólido e sua
cabeça deve estar protegida contra o menor balanço. Ele deve ter a sensação de
unidade das diferentes partes de seu corpo.
26No
nascimento, o estado natural é aquele de não-integração, mesmo dentro de um
clima de bons cuidados, mas estes irão permitir que a integração se estabeleça.
O sujeito passa de um esta do não integrado a uma integração estruturada, e
nesse estado a criança torna-se capaz de superar a angústia ligada à
desintegração. Sem uma qualidade suficiente de cuidados, o jovem ser humano não
tem nenhuma chance de ter um desenvolvimento normal. Uma boa técnica de
cuidados previne as sensações de desintegração e de perda de contato entre a
psique e o soma.
A falta de
relação psique-soma engendra uma sensação de despersonalização. Há a necessidade
de não mover a criança com gestos precipitados, mas sim procurar um contato
visual, um diálogo vigoroso com ela, procurar preveni-la verbalmente de tudo
que irá acontecer durante os cuidados, afim de que ela possa se preparar para
os acontecimentos e, sobretudo, para qualquer mudança de posição das diferentes
partes de seu corpo ou de seu corpo inteiro.
8 O adulto
solicita uma participação ativa da criança em tudo o que acontece com ela,
dentro de seu nível atual de competências. O adulto espera por alguns instantes
os gestos da criança, ainda espontâneos, mais tarde voluntários, antes de
executar sua ação com mãos sensíveis e delicadas.
A boa
qualidade dos cuidados depende também da atitude autêntica do adulto: seu
profundo interesse no bem-estar da criança, por todos os detalhes deste bem-estar,
por todas as reações corporais, mímicas, tônicas e vocais do bebê, e sua tomada
de consciência da importância dos cuidados e de suas conseqüências imediatas e
distantes.
Para que
os cuidados respondam às necessidades da criança, é essencial que ela possa
sentir que é dela que se ocupam, de sua pessoa inteira, e não somente de seus
órgãos, sua pele, suas nádegas, seu pênis ou estômago. Quando se limpam as
orelhas ou se passa creme nas nádegas, o olhar direcionado e a palavra que lhe
é endereçada exprimem que, se bem que o estado de sua pele, de seus cabelos ou
de suas unhas sejam importantes, não somente eles interessam ao adulto, mas todo o seu bem-estar. Toda a sua
pessoa é importante. Durante a refeição, o essencial não é se a quantidade de
alimento consumida aumenta ou diminui, mas o importante é que ela, a criança
que come, possa sentir o prazer de comer segundo seu apetite, descobrir o
prazer dos bons sabores e a satisfação da saciedade.
Parar
antes de executar um gesto, para dar à criança o tempo de exprimir aquilo que
ela quer, sentir se a criança aceita ou não aquilo que lhe foi proposto, partir
dos movimentos da criança para utilizá-los em tarefas que desejamos realizar, esperar o movimento da
criança, permitindo agir em
harmonia com seus movimentos. Nada deve ser imposto: possibilidades são
oferecidas, propostas; a criança pode sentir que o adulto fica contente quando
ela consegue fazer qualquer coisa, mas que também pode sentir-se aceita e
apreciada sem ter feito nenhuma performance espetacular.
32 Nós
sabermos que, durante a primeira infância, as necessidades corporais e as
respostas a elas desempenham um papel primordial na relação da criança com ela
mesma e com seu entorno (ambiente externo); por isso as futuras enfermeiras do
Instituto Pikler são iniciadas na observação detalhada e
aprendem uma técnica homogênea e coerente para poder propiciar os cuidados
fundamentais ao desenvolvimento do bebê.
Nosso
protocolo de gestos de cuidados básicos se ajusta às necessidades da criança e
visa preservar seu bem-estar. Ele assegura ao adulto a segurança de um
saber-fazer, evitando hesitações, improvisações e medo de esquecer alguma coisa
importante. Ele dá, também, uma segurança à criança por sua previsibilidade:
ele a protege contra os gestos e os acontecimentos imprevistos, mesmo se,
dentro da coletividade, forem várias as pessoas que , uma de cada vez, lhe oferecem
os cuidados.
34Quando a
enfermeira apreende e incorpora este protocolo, ela passa a ter uma
participação corporal, gerada pela compreensão da importância da aproximação
com o bebê, que lhe permite ser mais atenciosa e disponível aos sinais individuais
de cada criança.
Mas tal
protocolo de gestos não é suficiente para garantir bons cuidados. Ele comporta,
também, alguns riscos. Se a aplicação dos gestos aprendidos não for sustentada
por uma atitude atenta, observadora, pessoal e calorosa, pode-se cair
facilmente nas armadilhas dos comportamentos vazios, de rotinas caricatas e em
treinamentos ou condicionamentos da criança a uma falsa participação. Neste
caso, o bebê não experimenta sua competência, a experiência de saber agir com o
outro, mesmo se dá a impressão de
cooperar.
Ao
contrário, o bebê verdadeiramente participante nos cuidados coopera com a
alegria de “eu faço por mim mesmo”. Ele se dá o direito de reagir de maneira
adequada às demandas dos adultos, mas também de desviar delas de vez em quando,
brincando, se desligando dos cuidados para se ocupar de qualquer outra coisa, de
desviar a atenção do adulto para outra coisa. E o adulto que coopera permite
esse tipo de manifestação dentro do limite do possível.
37 A saúde
mental de um indivíduo se edifica sobre os cuidados infantis cuja importância
foi enfatizada. Quando tudo vai bem, os cuidados são a continuação aos aportes
psicológicos característicos do período pré-natal, e a criança nem se apercebe
se algo lhe é ofertado de modo não tão conveniente, pois está preservada. Mas
se houver carência nos cuidados que lhe são dados, a criança se dá conta, não
da falta de cuidados, mas do mal estar que isso lhe proporciona.
É
necessário evocar um outro aspecto dos cuidados corporais cuja importância é
indiscutível, o que diz respeito aos estímulos táteis e de contatos físicos
entre a criança e o adulto, suscitados pelos cuidados. Acreditamos frequentemente
que esses contatos se limitam a pegar a criança nos braços, sobre os joelhos, a
acariciá-la. Pensamos menos nos outros contatos corporais também importantes,
senão mais, que são os contatos do adulto com o bebê para realizar os cuidados.
A
propagação de métodos mais suaves no que concerne ao nascimento, ao parto, às
tentativas para ajudar a comunicação primária entre a mãe e seu recém-nascido
são iniciativas felizes. Mas se o que acontece à criança durante e
imediatamente depois do nascimento é importante, aquilo que ela vive em seguida
não é menos importante.
40 Se durante
os cuidados com bebês, os gestos do adulto não são adequados e cheios de
ternura, se forem indiferentes, rápidos e funcionais, se as mãos do adulto que pega, carrega a
criança não lhe dão um sentimento de segurança, mas trazem logo angústia e
insegurança, todos os conhecimentos técnicos e toda a destreza profissional não
impedirão a criança de viver esse contato com desprazer. Os cuidados e o
contato corporal constituirão para ela não uma fonte de alegria, mas sim de
angústia e de insegurança. Isso não é sem conseqüências para um bebê que se desenvolve
no campo da família, mas ganha importância particular dentro das coletividades,
creches, enfermarias, hospitais, abrigos, onde há menos possibilidades de
compensação que dentro de uma família.
41 Se um
adulto quer precipitar, acelerar a refeição, a troca, o vestir ou o banho, a
criança não somente sentirá o caráter fisicamente desagradável dos gestos
rápidos, bruscos e mecânicos, mas também o tempo que ela passa com o adulto não
dará nenhum prazer, a nenhum dos parceiros.
42 Por suas experiências ao longo dos
primeiros meses e anos da vida, a jovem criança constrói a imagem de seu corpo,
que pode influenciar profundamente seu futuro. Sua personalidade, a imagem que
tem de si mesma, o desenvolvimento de sua auto-estima, a integração de seu
papel sexual, e mais tarde de seu comportamento de adulto e de pais, serão
influenciados pelos cuidados que recebeu durante a infância. Cada carência,
mesmo episódica, dentro dos cuidados, provoca uma interrupção do sentimento de
continuidade de ser, e por conseqüência, por um enfraquecimento do “eu”. É a
qualidade dos cuidados, de seu caráter agradável ou desagradável , do prazer e do desprazer experimentado pela criança e
pelo adulto que se ocupa de seu corpo, que dependerá a percepção de seu próprio
corpo, de suas funções e das experiências que irão se incorporar.
43 Se o objetivo do adulto é a cooperação com a criança, ele permite a ela
ter experiências de mutualidade, elaborá-las , o que contribui para a
construção e ao fortalecimento de si mesma. Esses cuidados de boa qualidade
conduzem a criança ao que podemos chamar de um “estado de unidade”, a criança
torna-se uma pessoa, um indivíduo. Segundo Winnicott, esse “estado
de unidade” favorece a emergência do seu sentimento de existência
psicossomática e a engaja em um desenvolvimento pessoal único.
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